Conheça as 'bolhas', os companheiros espaciais incomuns do astronauta francês Thomas Pesquet

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Mar 23, 2024

Conheça as 'bolhas', os companheiros espaciais incomuns do astronauta francês Thomas Pesquet

O astronauta francês Thomas Pesquet deve decolar na sexta-feira para sua segunda estadia a bordo da Estação Espacial Internacional. Desta vez ele está levando quatro "bolhas" com ele, estranhas células unicelulares

O astronauta francês Thomas Pesquet deve decolar na sexta-feira para sua segunda estadia a bordo da Estação Espacial Internacional. Desta vez, ele leva consigo quatro "bolhas", estranhos organismos unicelulares que não são plantas, nem animais, nem fungos. O objetivo é estudar como o seu comportamento no espaço é afetado pela microgravidade.

Emitido em: 22/04/2021 - 14h35

Durante a missão Alpha, com duração prevista de seis meses, Pesquet realizará diversos experimentos científicos a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS). O programa inclui observar como os astronautas dormem no espaço, cultivar uma planta, mover um objeto com uma “pinça acústica” e também cuidar de quatro blobs, os organismos unicelulares que há muito fascinam a comunidade científica.

Blob, ou physarum polycephalum, seu nome científico, é uma espécie viva difícil de classificar: não é animal, nem planta, nem fungo. Composto por uma única célula e vários núcleos, é um dos poucos organismos unicelulares visíveis a olho nu e a sua cor amarela confere-lhe o aspecto de uma omelete ou de queijo gratinado.

"A bolha é fascinante em muitos aspectos. Tem capacidades excepcionais", disse Audrey Dussutour, directora de investigação do Centro de Investigação da Cognição Animal do CNRS, que lidera a equipa que supervisiona a investigação sobre o organismo unicelular.

Resiliência fenomenal

Uma bolha não tem boca, mas pode comer. Na natureza consome musgo e no laboratório se alimenta de aveia. "Ele pode se movimentar. Se for alimentado, também pode dobrar de tamanho a cada dia", disse Dussutour ao FRANCE 24.

“É inteligente, embora não tenha sistema nervoso”, acrescentou ela. “É capaz de aprender, memorizar, mas também de transmitir informações aos seus semelhantes.” Por exemplo, ele pode encontrar o caminho através de um labirinto.

A bolha também é extremamente resiliente, com uma capacidade extraordinária de resistir a todos os tipos de mudanças. “No laboratório, nas condições certas, uma bolha é quase imortal”, disse Dussutour.

Para prosperar, no entanto, uma bolha precisa estar em um ambiente escuro e úmido, com acesso a alimentos. Se exposto a demasiada luz ou calor, encolhe, seca e fica inativo, embora possa viver várias décadas neste estado imóvel. “Como acordá-lo então? Basta borrifá-lo com água”, explicou o cientista. “Nossa bolha mais antiga tem 70 anos!”

Uma vez no espaço, livre da gravidade da Terra, como reagirá o organismo unicelular? Sem uma resposta definitiva, a equipe de Dussutour escolheu a dedo quatro das bolhas mais resistentes para a viagem ao espaço.

“Não sabemos o que vai acontecer”, disse Dussutour. "Veremos como eles se movem, como se alimentam. Talvez o comportamento deles mude, em vez de ficarem achatados, eles ganharão volume."

“Vamos colocá-los em estado de dormência durante a viagem. Também é possível que permaneçam assim”, alertou. “O efeito da ausência de peso é a única coisa que não pudemos testar em laboratório.”

Preparação cuidadosa

Antes de enviar as bolhas para o espaço, Dussutour e os seus colegas tiveram de realizar toda uma bateria de experiências e testes. “O grande desafio foi encontrar um método para esterilizá-los – sem estressá-los – o que é uma etapa obrigatória para tudo que vai para a ISS”, explicou ela. “Também tivemos que testar o efeito das vibrações da decolagem, selecionar quais bolhas enviaríamos.”

>> O astronauta francês Thomas Pesquet conta ao France 24 tudo sobre a Missão Alpha

Uma equipe de especialistas também foi responsável pela confecção da “blob box”, contêiner onde os organismos viajarão. Dada a capacidade destas criaturas de se espremerem em espaços minúsculos, não foi uma tarefa fácil. “Foi necessário construir uma caixa que lhes permitisse respirar, mas garantindo que não escapariam”, disse o cientista.

Enquanto estiver na ISS, as quatro bolhas serão mantidas dentro desta caixa. Irá protegê-los da luz para que possam ser “filmados durante alguns segundos a cada dez minutos, para que não sofram danos”, explicou Dussutour.

> French astronaut Thomas Pesquet tells France 24 all about Mission Alpha/strong>